Tiro
É muito perigoso abandonar a publicação em blogues. Aprendi isto com Alberto Gonçalves, sociólogo. Quando comecei a visitar aquilo a que várias pessoas, contra a minha vontade (tão raramente atendida) e à falta de melhor nome, passaram a chamar «blogosfera», acompanhava de perto, e com bastante gozo, o «Homem a dias», um blogue bem escrito, depurado, com humor, e casmurro na dose certa, para os meus apetites da altura. Entretanto, o Alberto Gonçalves deixou a internet e foi à vida dele, primeiro montando tenda no Correio da Manhã e, mais tarde, nas páginas do Diário de Notícias. Sem nada que previsse tal destino, os textos de Alberto Gonçalves começaram rapidamente a perder a piada e, logo a seguir, tornaram-se numa espécie de ginásio, onde ideias politicamente incorrectas ganhavam músculo, sem esqueleto que as sustentasse. Foi assim, com muito pouco espanto, que recebi a célebre crónica sobre o rapper morto numa perseguição policial, um naco de prosa que deita por terra as ilusões de qualquer indivíduo que presuma que um melhor entendimento do mundo se alcança através de uma licenciatura em ciências sociais terminadas em «ia».
O parágrafo final («O sr. Rodrigues, ou sr. "Snake", escolheu o seu próprio estereótipo. O que a polícia fez depois terá sido injustificável, mas não totalmente imprevisível.») faz desembocar os processos argumentativos de Alberto Gonçalves numa estapafúrdia missão para a polícia portuguesa: abater, a tiro de pistola, os estereótipos deste mundo (a solução de recurso) enquanto ninguém consegue pôr os pretos a ler Thomas Sowell e Thomas McWhorter (a solução ideal). Perante isto, o Pedro Vieira e o João Bonifácio aproveitaram, e bem, para morder a crónica do DN onde ela se revela mais vulnerável. Eu talvez não seguisse exactamente aquela forma (no caso do post do Pedro Vieira) e preferisse evitar tantas referências aos encantos da «cultura de rua» (como faz o João Bonifácio), dando mais relevo ao modo como Alberto Gonçalves colocou o seu legítimo desprezo pelas vertentes musical e política do «hip-hop» ao serviço da sua conclusão. Mas agora também não convém exagerar na tareia ao Alberto Gonçalves (de quem eu continuo a gostar, atenção, só acho que ele não deveria ter deixado os blogues). Felizmente, há uma música que consegue encontrar uma t-shirt XL dos Lakers no armário parisiense de Serge Gainsbourg, e que todos podem dançar: Alberto, Pedro e João.
O parágrafo final («O sr. Rodrigues, ou sr. "Snake", escolheu o seu próprio estereótipo. O que a polícia fez depois terá sido injustificável, mas não totalmente imprevisível.») faz desembocar os processos argumentativos de Alberto Gonçalves numa estapafúrdia missão para a polícia portuguesa: abater, a tiro de pistola, os estereótipos deste mundo (a solução de recurso) enquanto ninguém consegue pôr os pretos a ler Thomas Sowell e Thomas McWhorter (a solução ideal). Perante isto, o Pedro Vieira e o João Bonifácio aproveitaram, e bem, para morder a crónica do DN onde ela se revela mais vulnerável. Eu talvez não seguisse exactamente aquela forma (no caso do post do Pedro Vieira) e preferisse evitar tantas referências aos encantos da «cultura de rua» (como faz o João Bonifácio), dando mais relevo ao modo como Alberto Gonçalves colocou o seu legítimo desprezo pelas vertentes musical e política do «hip-hop» ao serviço da sua conclusão. Mas agora também não convém exagerar na tareia ao Alberto Gonçalves (de quem eu continuo a gostar, atenção, só acho que ele não deveria ter deixado os blogues). Felizmente, há uma música que consegue encontrar uma t-shirt XL dos Lakers no armário parisiense de Serge Gainsbourg, e que todos podem dançar: Alberto, Pedro e João.
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