Querida querida,
Gostar muito é sempre melhor do que gostar pouco, mas a minha opinião sobre um determinado filme que aborde profunda ou tangencialmente os temas do amor, da perda, da guerra ou do mobiliário vintage, nem sempre coincide com a minha opinião sobre o amor, a perda, a guerra ou o mobiliário vintage. Por exemplo, do facto de ter gostado bastante mais do filme «Estado de Guerra» do que do martini «A Single Man», não decorre que eu prefira passar as tardes a desactivar engenhos explosivos no Médio Oriente, do que dar mergulhos no mar a horas impróprias (acreditas que há quem não alinhe num programa destes, nem de dia?). Essa preferência revela apenas que «A Single Man» está longe de ser a minha praia. Isto parece fácil de entender, mas não é; e essa confusão faz parte de um problema muito comum que, curiosamente, gangrena sobretudo em pessoas sérias, habituadas a fazer do gosto uma seta apontada para as suas vagas experiências, desejos ou ambições, sem perceber que o gosto é apenas um modo de sair de um sítio para chegar a outro, provavelmente muito melhor porque mais perto daquilo que nos serve de casa num dado momento (vamos mudando). Ao dizer «pessoas», estou obviamente a excluir-nos aos dois, pois tu és uma zebra de burchell e eu um mamífero aquático. Se o amor for um autocarro, estamos tramados, pois eu nunca vi uma zebra de burchell ou um mamífero aquático a atravessar a cidade no 203. Não deve ser.
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