My funny Valentine
«So many love songs are breathless with hyperbole, big on euphemism. But this one comes right out and says what's on its mind. "Your looks are laughable / Unphotographable / Yet you're my fav'rite work of art." This is the love song for people excluded by love songs - a fairly large catchment area.»
A fairly large catchment area. Vão por mim: não há nenhuma crítica de música melhor do que esta que Giles Smith escreveu sobre «My Funny Valentine», da dupla Rodgers & Hart, e que faz parte de uma colectânea de textos cheios de saúde, inicialmente publicados numa série do «Independent on Sunday» (também se lê bem à semana, podem continuar) e mais tarde reunidos no livro «Lives of the Great Songs». Ao contrário do que acontece tantas vezes, Giles Smith não se limita a usar os apetitosos apontamentos biográficos dos autores para colorir o seu texto, mas faz deles alavanca para falar de música (boa noite, Ourique), filtrando a nossa atenção para o devido lugar, com um surpreendente e raríssimo engenho.
«No one would be daft enough to risk a rhumba version of "My Funny Valentine". But that doesn't mean the song is set in its ways. The tone is always open to interpretation. Sometimes the tune appears to ring like a nursery rhyme, which is hardly surprising. The melody for the lines "My funny Valentine / Sweet comic Valentine" repeats three notes higher on the lines "Your looks are laughable / Unphotographable"; in other words, "My funny Valentine shares a crucial compositional device with "Three Blind Mice". And yet the song is built around an evenly descending bass-line, and the slight rise of the melody, against the slow fall of the bass can come over you like melancholy. Hart, it might be useful to remember, spent much of his life in despair and died alcoholic. Cutesy ditty or rueful lament? This is the gap the singers step into.»
As versões de «My Funny Valentine» são, como sabemos, mais que muitas. Kim Novak, Miles Davis, Chet Baker, Tony Bennett, Rickie Lee Jones, Ella, ele e milhares de pessoas em bares ou durante o melancólico banho de certas manhãs, cantaram os versos de Hart (falta tão pouco para «Heart») com milhares de pequenas variações, algumas delas, felizmente, nunca registradas em vinil, cassete BASF Ferro Extra ou cd. Não foi o caso de Frank Sinatra, que gravou o tema em 1953 para o álbum «Songs for Young Lovers», apesar de «My Funny Valentine» talvez dispensar o adjectivo «young», mais dado à tal hipérbole e ao eufemismo, quando acompanha sozinho um substantivo tão pesado. Com Sinatra, a canção - assegura Giles Smith - sai do teatro e dirige-se ao nightclub. E diz mais:
«The pace allows Sinatra to work in the half-rhyme of "is your" with "figure" in the line "Is your figure less than Greek?". That is the only ornate poeticism in Hart's lyric - and this from a writer who was regularly lavish. An old joke about Hart runs like this: "Larry Hart can rhyme anything - and does." Here, though, he sat back, turning on the style just once - that triumphant "Unphotographable", where one word unfolds to fill an entire line. There's a crafty rhyme in the lines "Don't change a hair for me / Not if you care for me", but more prominent are the non-rhymes, in which the same words chime quietly together: "My funny Valentine / Sweet comic Valentine" and "Stay little Valentine, stay". They partly explain the song's mutedness, the sense that all is not quite bright in its world. The movie The Fabulous Baker Boys [1989] takes this angle.»
Como vêem, com as citações certas, não é difícil fazer avançar um blogue.
A fairly large catchment area. Vão por mim: não há nenhuma crítica de música melhor do que esta que Giles Smith escreveu sobre «My Funny Valentine», da dupla Rodgers & Hart, e que faz parte de uma colectânea de textos cheios de saúde, inicialmente publicados numa série do «Independent on Sunday» (também se lê bem à semana, podem continuar) e mais tarde reunidos no livro «Lives of the Great Songs». Ao contrário do que acontece tantas vezes, Giles Smith não se limita a usar os apetitosos apontamentos biográficos dos autores para colorir o seu texto, mas faz deles alavanca para falar de música (boa noite, Ourique), filtrando a nossa atenção para o devido lugar, com um surpreendente e raríssimo engenho.
«No one would be daft enough to risk a rhumba version of "My Funny Valentine". But that doesn't mean the song is set in its ways. The tone is always open to interpretation. Sometimes the tune appears to ring like a nursery rhyme, which is hardly surprising. The melody for the lines "My funny Valentine / Sweet comic Valentine" repeats three notes higher on the lines "Your looks are laughable / Unphotographable"; in other words, "My funny Valentine shares a crucial compositional device with "Three Blind Mice". And yet the song is built around an evenly descending bass-line, and the slight rise of the melody, against the slow fall of the bass can come over you like melancholy. Hart, it might be useful to remember, spent much of his life in despair and died alcoholic. Cutesy ditty or rueful lament? This is the gap the singers step into.»
As versões de «My Funny Valentine» são, como sabemos, mais que muitas. Kim Novak, Miles Davis, Chet Baker, Tony Bennett, Rickie Lee Jones, Ella, ele e milhares de pessoas em bares ou durante o melancólico banho de certas manhãs, cantaram os versos de Hart (falta tão pouco para «Heart») com milhares de pequenas variações, algumas delas, felizmente, nunca registradas em vinil, cassete BASF Ferro Extra ou cd. Não foi o caso de Frank Sinatra, que gravou o tema em 1953 para o álbum «Songs for Young Lovers», apesar de «My Funny Valentine» talvez dispensar o adjectivo «young», mais dado à tal hipérbole e ao eufemismo, quando acompanha sozinho um substantivo tão pesado. Com Sinatra, a canção - assegura Giles Smith - sai do teatro e dirige-se ao nightclub. E diz mais:
«The pace allows Sinatra to work in the half-rhyme of "is your" with "figure" in the line "Is your figure less than Greek?". That is the only ornate poeticism in Hart's lyric - and this from a writer who was regularly lavish. An old joke about Hart runs like this: "Larry Hart can rhyme anything - and does." Here, though, he sat back, turning on the style just once - that triumphant "Unphotographable", where one word unfolds to fill an entire line. There's a crafty rhyme in the lines "Don't change a hair for me / Not if you care for me", but more prominent are the non-rhymes, in which the same words chime quietly together: "My funny Valentine / Sweet comic Valentine" and "Stay little Valentine, stay". They partly explain the song's mutedness, the sense that all is not quite bright in its world. The movie The Fabulous Baker Boys [1989] takes this angle.»
Como vêem, com as citações certas, não é difícil fazer avançar um blogue.
3 Comments:
E são boas citações, sim senhor. E um bom post.
Ah, e vou gamar aquele vídeo da Kim Novak.
(ando há algum tempo a fazer uma recolha deste tema. Aceito mais sugestões:
http://novaziodaonda.wordpress.com/category/my-funny-valentine/
Não sei, daniel. Não sei.
Talvez não, batukada, se calhar não. Mas exagerar aqui e ali faz bem à circulação e aos ossos.
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