Bento XXIII e os infiéis
Em Portugal, é frequente uma pessoa inflexível ser automaticamente elevada, por grupos organizados ou por elementos com bigode que operam nos transportes públicos, ao altar de pessoa séria. Estou a lembrar-me (e vocês também) de dois ou três políticos da nossa praça da alegria, mas não só.
Apesar dos louvores, a ética sem manchas, apregoada por Paulo Bento, sempre me suscitou muita desconfiança. Eu sei que estamos todos traumatizados de sono com os anos Carlos Queiroz que atravessámos contrariados, mas não contem comigo para dar corda a esta nova forma de vida. Até porque os problemas não são novos. A história, como convém lembrar, está repleta de grandes treinadores que tiveram de lidar com a boémia e a loucura de futebolistas capazes de levar qualquer um à boémia e à loucura; incontáveis misters que engoliram sapos atrás de sapos para que o jogo não se transformasse numa fábrica de Custódios. Basta exercitar um pouco a memória para convocar um número considerável de treinadores mal encarados e orgulhosos mas que, às vezes (muitas vezes), acabaram por fechar os olhos e tapar os ouvidos, de modo que jogadores talentosos não fossem afastados da sua profissão por quebrarem espalhafatosamente, às tantas da manhã, uma ou duas regras do código de trabalho. E quantos daqueles cavalheiros, nas suas palestras, não devem ter mordido a língua perante as patifarias de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli ou Tevez. Casos bastante difíceis, todos estes, em que o perdão e o sermão tiveram de ser administrados com sabedoria. E, no entanto, com abundante ou pouco sofrimento, a bola continuou a girar, quase sempre bem nos pés daquela quadrilha. Chegaram outras primaveras e outros invernos. Craig Bellamy construiu uma carreira.
Agora, atentemos ao que aconteceu por cá: Paulo Bento, em poucos meses como seleccionador, conseguiu entrar em conflito grave (e sem saber como sair dele) com os rapazes José Bosingwa e Ricardo Carvalho (com o Ricardo Carvalho, meu deus!). Dois tipos que, nas festas de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli e Tevez, ficariam encostados a um canto, de caprisone na mão, cantarolando as músicas baixinho, querendo ali não estar.
Apesar dos louvores, a ética sem manchas, apregoada por Paulo Bento, sempre me suscitou muita desconfiança. Eu sei que estamos todos traumatizados de sono com os anos Carlos Queiroz que atravessámos contrariados, mas não contem comigo para dar corda a esta nova forma de vida. Até porque os problemas não são novos. A história, como convém lembrar, está repleta de grandes treinadores que tiveram de lidar com a boémia e a loucura de futebolistas capazes de levar qualquer um à boémia e à loucura; incontáveis misters que engoliram sapos atrás de sapos para que o jogo não se transformasse numa fábrica de Custódios. Basta exercitar um pouco a memória para convocar um número considerável de treinadores mal encarados e orgulhosos mas que, às vezes (muitas vezes), acabaram por fechar os olhos e tapar os ouvidos, de modo que jogadores talentosos não fossem afastados da sua profissão por quebrarem espalhafatosamente, às tantas da manhã, uma ou duas regras do código de trabalho. E quantos daqueles cavalheiros, nas suas palestras, não devem ter mordido a língua perante as patifarias de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli ou Tevez. Casos bastante difíceis, todos estes, em que o perdão e o sermão tiveram de ser administrados com sabedoria. E, no entanto, com abundante ou pouco sofrimento, a bola continuou a girar, quase sempre bem nos pés daquela quadrilha. Chegaram outras primaveras e outros invernos. Craig Bellamy construiu uma carreira.
Agora, atentemos ao que aconteceu por cá: Paulo Bento, em poucos meses como seleccionador, conseguiu entrar em conflito grave (e sem saber como sair dele) com os rapazes José Bosingwa e Ricardo Carvalho (com o Ricardo Carvalho, meu deus!). Dois tipos que, nas festas de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli e Tevez, ficariam encostados a um canto, de caprisone na mão, cantarolando as músicas baixinho, querendo ali não estar.
4 Comments:
caprisone, ahahah
Eu gosto do Paulo Bento, é um tipo genuinamente sério e honesto. A tua análise faz todo o sentido, mas tinhas que meter ao barulho outros tipos que não o Bosingwa e o Carvalho. O que este último fez não tem perdão, já o Mourinho duvidou em tempos das capacidades intelectuais do rapaz. O Bosingwa pouca diferença fará dos que por lá andam, mas pelo que vou sabendo era uma ovelhinha negra que por lá andava. Inflexível, o Paulo Bento? Recuperou o Martins e o Varela depois de não apostar neles no Sporting, soube aceitar que os fins de época de Custódio e Miguel Lopes mereciam romper as convocatórias habituais. O Caprissone está giro, mas o que realmente interessa devia ser mais ponderado.
Não concordo nada com esse comentário e, como seria de esperar, concordo bastante comigo.
1) O Mourinho treinou o Ricardo Carvalho no Porto, levou-o para Londres e, já depois dessas declarações (que devem ser entendidas no seu contexto), contratou-o para o Real Madrid. Não me parece que duvide das capacidades dele (e faz bem porque o Ricardo Carvalho foi o melhor central português dos últimos 20 anos).
2) A convocatória do Varela (um tipo cordato) era inevitável. Em 2010/2011, o Varela fez uma óptima época, numa equipa que ganhou o campeonato (sem derrotas) e a Liga Europa. Paulo Bento tem o part-time mais bem pago de Portugal (seleccionador da equipa A) e há coisas que ele sabe, por ser inteligente, que não pode fazer. Perante a falta de médios - após a saída de cena do Deco e do Tiago - Paulo Bento teria também de inventar muita prosa para justificar a ausência de Carlos Martins, naquela altura.
3) O que me aborrece no Paulo Bento é a sua incapacidade para calibrar os castigos. Viu-se isso no Sporting e confirma-se agora na selecção. Para ele, um jogador ou cumpre escrupulosamente as regras ou é afastado para sempre. Para sempre. Ainda que o jogador em causa tenha uma longa carreira sem problemas de maior, como o Ricardo Carvalho. E o Paulo Bento nem sequer teve de lidar com jogadores realmente complicados (como aqueles que eu menciono ali em cima). Este é que é o argumento principal (e ponderado) do meu post.
A nação precisa de tipos casmurros como nós. Não concordo em boa parte com o seu contra-argumentário, talvez porque conheça demasiado bem a forma de pensar e as qualidades humanas do Paulo Bento (não interessa como nem porquê, mas conheço, o que obviamente poderá influenciar a posição que defendo). Quanto aos 3 pontos:
1) O Ricardo foi o melhor central português de todos os tempos e sem dúvida dos mais elegantes e inteligente de sempre. O que fez no episódio que levou à sua exclusão foi merda da grossa, a sua reacção foi ainda mais desgraçada, não poderia haver recuperação para a selecção. Não ver isto é cair no laxismo e na irresponsabilização que levou este país até onde está.
2) Dizer que a convocatória do Varela era inevitável é no mínimo um exercício arriscado. Acho que ele não é jogador para a selecção, o P. Bento acha e levou, e com isso soube contornar a sua alegada teimosia e inflexibilidade.
3) Cumprir escrupulosamente as regras, é esse o pecado maior de que acusa Paulo Bento. Sinceramente, tenho poucas dúvidas de que precisamos a mandar no país, nas empresas, nos serviços de muitos pecadores como ele.
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