Literatura de poucas viagens
Há uns dias, ao folhear o jornal, descobri que um dos livros que li nas férias ("Gosto disto aqui" de Kingsley Amis) acaba de ser reeditado pela Quetzal. É tão raro encontrar-me sincronizado com o movimento editorial português que sinto que não posso desperdiçar esta oportunidade de avançar na crista da onda com o meu comentário. Tal como outros notaram, também eu reparei que "Gosto disto aqui" não é um grande livro, mas quem me dera que todos os livros falhados fossem assim tão bons. Embora a história seja pouco aprimorada e carregue um grama quase irrelevante de mistério, há incontáveis parágrafos de boas embirrações com isto e aquilo, quase todas pela voz de Bowen, uma personagem forçada pelas circunstâncias a abandonar Inglaterra e a relutantemente passar a maior parte do romance em Portugal, nos anos 50, durante a ditadura de Manuel Loff. Apesar de nem sempre os tiros de Amis serem certeiros, sobrevivem algumas observações sobre a nossa pátria que me fizeram rir (a minha forma preferida de acomodar uma ideia). Esta em especial, na pág. 158 da edição da Cotovia:
"Toda aquela geografia e biologia, que faziam as pessoas comportar-se como se tivessem inventado o país em vez de viverem apenas nele."
O José Gil não fala assim.
"Toda aquela geografia e biologia, que faziam as pessoas comportar-se como se tivessem inventado o país em vez de viverem apenas nele."
O José Gil não fala assim.
2 Comments:
Esse pequeno trecho quase que já vale o livro, digo eu.
Nunca li nada do Kingsley Amis, mas gostei muito de
alguns do filhote, o Martin, mais do que todos do "Money". O pai terá algo a ver com o filho?
Tenho dificuldade em fazer a comparação, porque este foi o primeiro livro do Kingsley Amis que li (embora tenha cá o "Lucky Jim" à espera). Mas por muito que procurem afastar-se, os filhos trazem sempre alguma coisa dos pais (para o bem e para o mal e para o assim-assim).
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