Sinos
Para o bem e para o mal, fazemos parte de uma geração que foi alimentando um certo desprezo pelos momentos simbólicos. Olhamos de lado, com um desapego cínico, para as cerimónias de casamento, e com uma cautelosa distância para velórios e funerais. Quase nenhum ritual escapa ao nosso sarcasmo. O que nos interessa é o amor e a memória, não os canapés, os pratos de peixe e carne, a igreja engalanada, os ritos de passagem, a palavra que testemunha o compromisso, a entrega do corpo à terra. Mas no desejo de desrespeitar a tutela nem sempre meiga dos antigos, de romper algumas convenções sociais que inutilmente agrilhoaram as ambições dos nossos avós e talvez dos nossos pais, acabamos por também deixar nascer e morrer, desgarrados de tudo o resto, muitos acontecimentos importantes da nossa vida, que assim permanecem tristemente avulsos, fragmentados. Não admira que lidemos tão mal com o júbilo inesperado e com a perda.
1 Comments:
Sem dúvida!
~CC~
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