Uma nota fora de estação
Isto é mais certo que todas as certezas. Pelo menos em Portugal, não há ninguém que não conheça um daqueles cidadãos recenseados que, aos primeiros sinais de Verão, aponta logo o carro para o mar e só descansa a alma confusa quando os dez dedos dos pés se enterram na areia. E toda a gente é quase amigo de pelo menos uma rapariga que vive para os dias de sol, transportando, sem falhas, na sua bolsa infinita, um biquíni mais rápido que a própria sombra, mais pequeno que qualquer sombra. Mas mesmo esses soldados do Verão, se forem justos ou muito coagidos, terão de admitir que ir à praia fica sempre aquém daquela alegria do corpo a que, por falta de jeito, chamamos vir da praia. Não que ir à praia seja propriamente uma longa espera pela sobremesa do regresso. Nada disso. Mas digam-me lá se existe outra leveza maior do que aquela que experimenta quem volta a casa, de vidro aberto, com o sal do mar nos cabelos, depois de uma grande tareia de vinte ondas. Pensem nisso, pois a chuva agora ajuda o pensamento.