≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 18.5.12
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 14.5.12
Bento XXIII e os infiéis
Em Portugal, é frequente uma pessoa inflexível ser automaticamente elevada, por grupos organizados ou por elementos com bigode que operam nos transportes públicos, ao altar de pessoa séria. Estou a lembrar-me (e vocês também) de dois ou três políticos da nossa praça da alegria, mas não só.
Apesar dos louvores, a ética sem manchas, apregoada por Paulo Bento, sempre me suscitou muita desconfiança. Eu sei que estamos todos traumatizados de sono com os anos Carlos Queiroz que atravessámos contrariados, mas não contem comigo para dar corda a esta nova forma de vida. Até porque os problemas não são novos. A história, como convém lembrar, está repleta de grandes treinadores que tiveram de lidar com a boémia e a loucura de futebolistas capazes de levar qualquer um à boémia e à loucura; incontáveis misters que engoliram sapos atrás de sapos para que o jogo não se transformasse numa fábrica de Custódios. Basta exercitar um pouco a memória para convocar um número considerável de treinadores mal encarados e orgulhosos mas que, às vezes (muitas vezes), acabaram por fechar os olhos e tapar os ouvidos, de modo que jogadores talentosos não fossem afastados da sua profissão por quebrarem espalhafatosamente, às tantas da manhã, uma ou duas regras do código de trabalho. E quantos daqueles cavalheiros, nas suas palestras, não devem ter mordido a língua perante as patifarias de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli ou Tevez. Casos bastante difíceis, todos estes, em que o perdão e o sermão tiveram de ser administrados com sabedoria. E, no entanto, com abundante ou pouco sofrimento, a bola continuou a girar, quase sempre bem nos pés daquela quadrilha. Chegaram outras primaveras e outros invernos. Craig Bellamy construiu uma carreira.
Agora, atentemos ao que aconteceu por cá: Paulo Bento, em poucos meses como seleccionador, conseguiu entrar em conflito grave (e sem saber como sair dele) com os rapazes José Bosingwa e Ricardo Carvalho (com o Ricardo Carvalho, meu deus!). Dois tipos que, nas festas de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli e Tevez, ficariam encostados a um canto, de caprisone na mão, cantarolando as músicas baixinho, querendo ali não estar.
Apesar dos louvores, a ética sem manchas, apregoada por Paulo Bento, sempre me suscitou muita desconfiança. Eu sei que estamos todos traumatizados de sono com os anos Carlos Queiroz que atravessámos contrariados, mas não contem comigo para dar corda a esta nova forma de vida. Até porque os problemas não são novos. A história, como convém lembrar, está repleta de grandes treinadores que tiveram de lidar com a boémia e a loucura de futebolistas capazes de levar qualquer um à boémia e à loucura; incontáveis misters que engoliram sapos atrás de sapos para que o jogo não se transformasse numa fábrica de Custódios. Basta exercitar um pouco a memória para convocar um número considerável de treinadores mal encarados e orgulhosos mas que, às vezes (muitas vezes), acabaram por fechar os olhos e tapar os ouvidos, de modo que jogadores talentosos não fossem afastados da sua profissão por quebrarem espalhafatosamente, às tantas da manhã, uma ou duas regras do código de trabalho. E quantos daqueles cavalheiros, nas suas palestras, não devem ter mordido a língua perante as patifarias de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli ou Tevez. Casos bastante difíceis, todos estes, em que o perdão e o sermão tiveram de ser administrados com sabedoria. E, no entanto, com abundante ou pouco sofrimento, a bola continuou a girar, quase sempre bem nos pés daquela quadrilha. Chegaram outras primaveras e outros invernos. Craig Bellamy construiu uma carreira.
Agora, atentemos ao que aconteceu por cá: Paulo Bento, em poucos meses como seleccionador, conseguiu entrar em conflito grave (e sem saber como sair dele) com os rapazes José Bosingwa e Ricardo Carvalho (com o Ricardo Carvalho, meu deus!). Dois tipos que, nas festas de Gascoigne, Romário, Cassano, Ronaldinho, Balotelli e Tevez, ficariam encostados a um canto, de caprisone na mão, cantarolando as músicas baixinho, querendo ali não estar.
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 10.5.12
Roma
Li, na London Review of Books, que em 37 d.C., após o primeiro discurso de Calígula ao Senado, os senadores romanos estipularam que as palavras iniciais do imperador fossem reproduzidas publicamente todos os anos. Embora essa decisão tivesse sido vendida como um tributo à oratória do novo soberano, ela procurava sobretudo forçar o imperador a cumprir as suas promessas. Nada disto impediu, contudo, que Calígula construísse o seu currículo de atrocidades, condenando à morte (quase por capricho) alguns dos seus súbditos, ao mesmo tempo que oferecia um palácio de mármore ao seu cavalo favorito.
As palavras leva-as o vento. Há muito tempo.
As palavras leva-as o vento. Há muito tempo.
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 9.5.12
Esplanada
É bem sabido que os constrangimentos sociais diminuem à medida que a idade das pessoas avança, mas poucas vezes podemos confirmar esta espectacular e reconfortante tendência pelo preço de um café. Hoje, numa esplanada, enquanto uma velhinha patusca usava um pente para compor os fios de cabelo do seu marido, como se ali estivessem sozinhos, uma jovem rapariga confidenciava - a um amigo ou ao seu namorado - que não gostaria nada de passar as férias com o pai num lugar paradisíaco (ela usou esta linguagem de agência de viagens, o destino pode muito bem ser Cancún), porque receava que os outros a tomassem por amante dele. No mundo ideal, quando a rapariga se levantasse para pagar a conta e ir embora, a velhinha patusca esticaria ligeiramente a perna, apenas o suficiente para que a rapariga tropeçasse nela e viajasse, despenteada e muito consciente, até ao chão ou mais fundo.