≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 26.4.10
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 24.4.10
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 22.4.10
Querida querida,
Gostar muito é sempre melhor do que gostar pouco, mas a minha opinião sobre um determinado filme que aborde profunda ou tangencialmente os temas do amor, da perda, da guerra ou do mobiliário vintage, nem sempre coincide com a minha opinião sobre o amor, a perda, a guerra ou o mobiliário vintage. Por exemplo, do facto de ter gostado bastante mais do filme «Estado de Guerra» do que do martini «A Single Man», não decorre que eu prefira passar as tardes a desactivar engenhos explosivos no Médio Oriente, do que dar mergulhos no mar a horas impróprias (acreditas que há quem não alinhe num programa destes, nem de dia?). Essa preferência revela apenas que «A Single Man» está longe de ser a minha praia. Isto parece fácil de entender, mas não é; e essa confusão faz parte de um problema muito comum que, curiosamente, gangrena sobretudo em pessoas sérias, habituadas a fazer do gosto uma seta apontada para as suas vagas experiências, desejos ou ambições, sem perceber que o gosto é apenas um modo de sair de um sítio para chegar a outro, provavelmente muito melhor porque mais perto daquilo que nos serve de casa num dado momento (vamos mudando). Ao dizer «pessoas», estou obviamente a excluir-nos aos dois, pois tu és uma zebra de burchell e eu um mamífero aquático. Se o amor for um autocarro, estamos tramados, pois eu nunca vi uma zebra de burchell ou um mamífero aquático a atravessar a cidade no 203. Não deve ser.
Crónicas da tabacaria
Maus resultados do FC Porto:
«Ele já devia ter juízo, nunca mais tem juízo, o homem. E a Filomena até é uma mulher bonita, ficava bem ao lado dele, diga lá, não ficava? Agora a esta só lhe interessa o carcanhol, mas as brasileiras, sabe como é, têm aquela voz doce, falam-lhes ao ouvido e depois, como são boas a suar, eles caem que nem patinhos, nunca falha (...)»
Crise nas companhias de aviação após a erupção do vulcão coiso:
«Claro que as companhias se queixam das restrições, pois está claro que se queixam. Meu amigo, isto é como o cangalheiro: não quer que ninguém morra mas quer que a vida corra. Está a perceber?»
«Ele já devia ter juízo, nunca mais tem juízo, o homem. E a Filomena até é uma mulher bonita, ficava bem ao lado dele, diga lá, não ficava? Agora a esta só lhe interessa o carcanhol, mas as brasileiras, sabe como é, têm aquela voz doce, falam-lhes ao ouvido e depois, como são boas a suar, eles caem que nem patinhos, nunca falha (...)»
Crise nas companhias de aviação após a erupção do vulcão coiso:
«Claro que as companhias se queixam das restrições, pois está claro que se queixam. Meu amigo, isto é como o cangalheiro: não quer que ninguém morra mas quer que a vida corra. Está a perceber?»
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 21.4.10
A emoção
Fôssemos sempre assim alertados: «Carnival of Souls» arises such emotion that the management has been forced to state: positively no refunds.
Around me sits the night
Uma rulote não tem a solenidade de um teatro, mas nem as pessoas com o entusiasmo penhorado pelas agruras da vida podem ficar indiferentes à estreia, aqui neste país que não é a Grécia, do mais obscuro musical de Filipe La Féria, com a participação de Jorge Silva Melo como artista unido a isto:
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 9.4.10
Um blogue que assim começa
«Um ano dum galgo são doze anos nossos, mas a noção alterada do tempo não impede o amor entre as espécies que é um amor entre gerações. Há quem compare os cães que tem a filhos, mas ter um cão é como ter um bisavô. O que seria de nós? Uma juventude de meses, ser maduro ao fim dum ano e velho quase toda a vida. Nós, os tolos, sabemo-lo, que é uma existência condenada à sabedoria. Na vida dum galgo de corrida, a nossa tenra idade seria há muito a da malfadada aposentação. A ruína antecipada por glórias vãs e emprestadas. Viva o galgo.»
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 8.4.10
Tiro
É muito perigoso abandonar a publicação em blogues. Aprendi isto com Alberto Gonçalves, sociólogo. Quando comecei a visitar aquilo a que várias pessoas, contra a minha vontade (tão raramente atendida) e à falta de melhor nome, passaram a chamar «blogosfera», acompanhava de perto, e com bastante gozo, o «Homem a dias», um blogue bem escrito, depurado, com humor, e casmurro na dose certa, para os meus apetites da altura. Entretanto, o Alberto Gonçalves deixou a internet e foi à vida dele, primeiro montando tenda no Correio da Manhã e, mais tarde, nas páginas do Diário de Notícias. Sem nada que previsse tal destino, os textos de Alberto Gonçalves começaram rapidamente a perder a piada e, logo a seguir, tornaram-se numa espécie de ginásio, onde ideias politicamente incorrectas ganhavam músculo, sem esqueleto que as sustentasse. Foi assim, com muito pouco espanto, que recebi a célebre crónica sobre o rapper morto numa perseguição policial, um naco de prosa que deita por terra as ilusões de qualquer indivíduo que presuma que um melhor entendimento do mundo se alcança através de uma licenciatura em ciências sociais terminadas em «ia».
O parágrafo final («O sr. Rodrigues, ou sr. "Snake", escolheu o seu próprio estereótipo. O que a polícia fez depois terá sido injustificável, mas não totalmente imprevisível.») faz desembocar os processos argumentativos de Alberto Gonçalves numa estapafúrdia missão para a polícia portuguesa: abater, a tiro de pistola, os estereótipos deste mundo (a solução de recurso) enquanto ninguém consegue pôr os pretos a ler Thomas Sowell e Thomas McWhorter (a solução ideal). Perante isto, o Pedro Vieira e o João Bonifácio aproveitaram, e bem, para morder a crónica do DN onde ela se revela mais vulnerável. Eu talvez não seguisse exactamente aquela forma (no caso do post do Pedro Vieira) e preferisse evitar tantas referências aos encantos da «cultura de rua» (como faz o João Bonifácio), dando mais relevo ao modo como Alberto Gonçalves colocou o seu legítimo desprezo pelas vertentes musical e política do «hip-hop» ao serviço da sua conclusão. Mas agora também não convém exagerar na tareia ao Alberto Gonçalves (de quem eu continuo a gostar, atenção, só acho que ele não deveria ter deixado os blogues). Felizmente, há uma música que consegue encontrar uma t-shirt XL dos Lakers no armário parisiense de Serge Gainsbourg, e que todos podem dançar: Alberto, Pedro e João.
O parágrafo final («O sr. Rodrigues, ou sr. "Snake", escolheu o seu próprio estereótipo. O que a polícia fez depois terá sido injustificável, mas não totalmente imprevisível.») faz desembocar os processos argumentativos de Alberto Gonçalves numa estapafúrdia missão para a polícia portuguesa: abater, a tiro de pistola, os estereótipos deste mundo (a solução de recurso) enquanto ninguém consegue pôr os pretos a ler Thomas Sowell e Thomas McWhorter (a solução ideal). Perante isto, o Pedro Vieira e o João Bonifácio aproveitaram, e bem, para morder a crónica do DN onde ela se revela mais vulnerável. Eu talvez não seguisse exactamente aquela forma (no caso do post do Pedro Vieira) e preferisse evitar tantas referências aos encantos da «cultura de rua» (como faz o João Bonifácio), dando mais relevo ao modo como Alberto Gonçalves colocou o seu legítimo desprezo pelas vertentes musical e política do «hip-hop» ao serviço da sua conclusão. Mas agora também não convém exagerar na tareia ao Alberto Gonçalves (de quem eu continuo a gostar, atenção, só acho que ele não deveria ter deixado os blogues). Felizmente, há uma música que consegue encontrar uma t-shirt XL dos Lakers no armário parisiense de Serge Gainsbourg, e que todos podem dançar: Alberto, Pedro e João.
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 6.4.10
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 3.4.10
≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 1.4.10
Se não queres repetir a palavra «óscar», usa a expressão «estatueta dourada»
Esta semana, vi finalmente o filme «Estado de Guerra» e só tenho coisas boas a dizer sobre aqueles 130 minutos (mas não vou dizer nada sobre aqueles 130 minutos; guardarei tudo dentro de mim, para ganhar peso na cultura). Quem diria que eu e a Academia de Hollywood, duas pessoas completamente diferentes, acabaríamos enamorados pela mesma mulher?
«Alice is 19 now, she has been dreaming of Wonderland for many years. We have seen her as a little girl, in a brief prelude, being reassured by her father that it’s all right to have strange dreams and a good thing to be crazy anyway, because all the best people are. I’m not sure this second proposition is as comforting as it’s supposed to be, but it works for Alice, who interprets it, at the end of the film, to mean that she should become a bold entrepreneur like her father, and sell some sort of unnamed goods to China, which apparently no one has thought of doing. You would have to believe in Wonderland, perhaps, in order to believe in China.»
Os óculos 3D não me ficam especialmente bem.
Como nem só de alegrias se faz uma vida, fiquei pouco convencido dos méritos de «Um Homem Singular», um longo spot publicitário a mobiliário vintage e com flashbacks e diálogos que deixam muito a desejar (há até um momento em que um gigolô espanhol surge do nada para nos informar que, segundo a sua mãe cabeleireira, o «amor é como um autocarro...»; enfim, um cidadão não anda a perder benefícios fiscais para ouvir isto). Já que aqui estamos, aproveito para comunicar ao país que também não posso dizer maravilhas da Alice. Porquê? Talvez porque quase todas as cenas são demasiado previsíveis, sem surpresas que espevitem o desejo de trocar este mundo pelo outro, ficando a nossa imaginação dramaticamente refém da memória que guardamos do livro ou de ilustrações e filmes antigos sobre «Alice no País das Maravilhas». Tim Burton deveria ter sido mais arrojado, sem pensar tanto no espectador normal, uma vez que de médico e de chapeleiro louco todos temos um pouco. Se é verdade que não me diverti por aí além com o filme, tenho de confessar que tive de controlar o riso ao ler esta alfinetada do Michael Wood:
«Alice is 19 now, she has been dreaming of Wonderland for many years. We have seen her as a little girl, in a brief prelude, being reassured by her father that it’s all right to have strange dreams and a good thing to be crazy anyway, because all the best people are. I’m not sure this second proposition is as comforting as it’s supposed to be, but it works for Alice, who interprets it, at the end of the film, to mean that she should become a bold entrepreneur like her father, and sell some sort of unnamed goods to China, which apparently no one has thought of doing. You would have to believe in Wonderland, perhaps, in order to believe in China.»
Os óculos 3D não me ficam especialmente bem.